A natureza nos fala e muitas vezes ela se manifesta por meio
dos seres mitológicos. Todos nós, seres humanos, vibramos os quatro elementos e
em diferentes situações um deles ou todos falam mais alto.
Iemanjá Ogunté! Omí o Iemanja, Omí Lateo, Omí Yalodde. Assim
no candomblé se saúda a esta guerreira das aguas, a única Iemanjá que usa
espada.
Ela carrega consigo todas as ferramentas de Ogum na cintura
e também tem nas suas mãos um abebê, que é um leque em forma circular com
desenhos de peixes. Um abebê também é usado por Oxum, mas com figuras
simbólicas diferentes, como corações.
Ogunté quer dizer “aquela que contém Ogum, aquela que luta
do lado dele”
Numa borra de café muitas são as figuras que podemos ver,
muitos os cafeogramas que podemos decifrar.
Nas formas que podem ser vistas neste pires, quanto
movimento pode ser percebido! E bem no centro uma figura parecida com uma
sereia, carregando uma espada em alto, um abebê da mão esquerda e cruzada no
corpo uma espécie de lenço ou de serpente. Omí o Yemonja! Vem ceifando e
trazendo justiça. Ela é severa, rígida, não perdoa, guerreira e destemida como
Iansã, dona do canto mais alto e profundo chama desde as profundezas do mar e
espalhando com firmeza, segurança e poder as aguas sobre as pedras, o seu grito
por Ogum, seu grito por justiça, seu grito na batalha por aquilo que é justo e
verdadeiro. Ela dança num movimento rápido, indomável, incontrolável enquanto
as rochas ficam imutáveis.
Todo este processo se conhece na geografia como erosão
marinha, ação das aguas ao longo do tempo que pode mudar uma paisagem, arrastar
rochedos e formar imagens incríveis. A erosão marinha está presente em todo o
litoral do Planeta, resultando em um longo processo de atrito da água do mar
com as rochas que transformam os relevos em planícies. Essas rochas acabam se
desgastando em grãos que são levados pelas ondas. Esse tipo de erosão é
consequente da ação de um fator presente na termodinâmica, em que há a
convecção (movimento de moléculas em fluidos) dos ventos, responsáveis pelo
surgimento das ondas, correntes e marés. No primeiro momento, a ação erosiva do
mar forma grandes paredões íngremes, chamados de falésias. Após isso, ocorre o
recuo da praia, onde o sedimento pelas ondas é transportado lateralmente pelas
correntes de deriva litoral.
Ogunté dança com a sua jiboia também na nossa borra de café,
vem arrasando com muitos animais ao seu redor. Ela não está sozinha. Ela se
apresenta para quem bebeu o café anunciando mudanças vindas por diante (lembram
da erosão?) E também pedindo: “não fique brava/o, a justiça está sendo feita e
nada nem ninguém ficará impune. Confie na capacidade da Grande Mãe guerreira
que há dentro de você e que está sendo revelada neste momento por médio dos
cafeogramas da bora de café. Não se permita perder nessa luta seus atributos
femininos, independente do seu género, conserve a sua vaidade, sedução; que não
faltem suas pulseiras, seu espelho, mas guarde seu facão, o que é seu de
direito ninguém tira. Ogum te deu suas ferramentas, saiba usa-las com inteligência,
sem violência. Deixe que o mar se encarrega disso tendo sua ação sobre os
rochedos, mentalize essas ondas quebrando a vibração das tristezas, quebrando a
vibração da cobardia, do infortúnio, da ingratidão, da traição ou da indiferença.
O que quiser quebrar está a sua disposição.
Quem tem uma mãe guerreira grita bem alto! Use sua voz então
para cantar, clamando também a sua verdade. Que seu som seja o mais harmónico!
Chame Ogum para lhe acompanhar e a Oxóssi para andar pela
mata durante a noite. Não esqueça que Ogunté passeia pelas matas sem que
ninguém a veja no meio da escuridão para depois entrar novamente no mar e fazer
a sua dança.
Alimente seu espírito cm esta força quando lhe faça falta.
As demandas, foram todas quebradas e levadas bem ao fundo do mar.